Descascar a fruta

E veio um dia que pensei “é hoje é hoje é hoje é agora agoooraaa!” (não é uma homenagem ao Saramago; é que o pensamento foi assim mesmo corrido). Fui até lá abaixo peguei na mala da ferramenta, puxei a RS para cima do cavelete (caseiro) e comecei a soltar-lhe as carenagems. Rapidamente ficaram expostas as entranhas da máquina, e não foi uma visão bonita – óleo lamacento escorrera outrora pela barriga do motor e pela panela de escape. Yac, uma chafurdice. Mas há quem ache estes motores uma obra prima, eu cá acho que gostos não se discutem. Na verdade tenho que admitir alguma admiração pelo trabalho técnico impressionante de refinação e engenhosas soluções para a multitude de problemas complexos que é preciso resolver na mobilidade fóssil (acho que acabei de cunhar um termo!); pena é que foram feitos numa direcção errada do mundo das soluções para a mobilidade. Mas adiante… vamos lá descascar um bocado esta fruta.

Bom, então se bem se lembram do 1º post, comecei com uma mota que até não tinha muito mau aspecto (especialmente depois do banho):

Existem uns ductos de ar (2 x 0,14 Kg) que ligam a carenagem frontal a 2 entradas no quadro, que já vinham desmontadas quando comprei a mota. Retirei as carenagens laterais (3,15 Kg) desapertando os parafusos, onde logo notei a falta de uma série deles. E tão a ver quando eu falei na “chafurdice” de óleo?

Continuando o trabalho tirei o guarda-lamas frontal (0,42 Kg) e a carenagem da frente (2,34 Kg), desliguei as fichas eléctricas que ligam aos manómetros e, removendo 2 parafusos horizontais na frente do quadro sai a estrutura frontal de apoio à carenagem com o quadro de instrumentos (2,36 Kg).

Neste ponto a que é fácil chegar, já ficamos com uma mota de aspecto bastante diferente, um estilo cujo nome não sei mas que já vi por aí fazerem a esta mota. Ganha um ar mais “atarracado” mas fixe.


Por esta altura já ganhei alguma confiança e quero é mais, quero desmontar mais coisas, muaha ha ha ha ha. Está na hora de começar a drenar o fluídos e o 1º sortudo é o óleo do motor. Para isso tirei a carenagem lateral esquerda do sub-quadro (0,32 Kg) e o sistema de fechadura/trinco do banco (0,2 Kg), para melhor acesso ao tubo que vai do depósito de óleo para a bomba de óleo no motor (foto do meio). O depósito fica por baixo do banco.

A fechadura une-se por um cabo de aço ao trinco do banco, que se vê à esquerda na foto acima do depósito. Coloquei um pano para evitar que o óleo se espalhasse e removi o clip do tubo (foto do meio) deixando o óleo escorrer para dentro de uma garrafa. Ainda lá tinha bastante (0,28 Kg). Tapei o tubo e depois removi o depósito (0,6 Kg), deixando-o ainda a escorrer restos de óleo para a garrafa.

Daí seguiu-se a carenagem lateral esquerda do sub-quadro (0,32 Kg), o banco do pendura (1,53 Kg) e uma peça plástica vermelha que tapa o lado inferior do sub-quadro e que tem a luz de stop e matricula (1,125 Kg). A fruta vai ficando cada vez mais descascada.

É preferível deixar ficar ligados os cabos que ainda não têm que ser removidos, de modo a que os contactos das fichas não fiquem desnecessariamente expostos.

Adoptei a estratégia de deixar parafusos e afins no sítio, à medida que removo as peças. Pareceu-me ser melhor solução do que guardar as pecinhas todas em caixas e ter que apontar tudo, até porque dá muito mau jeito escrever quando se tem as manápulas enfiadas em óleo e riquezas similares (e tirar fotos também). Depois é difícil ler etiquetas todas sujas, e falta espaço e paciência para descrever muito bem de onde é aquele parafuso e de que lado fica, porque os detalhes às vezes são subtis e cruciais e não nos lembramos de tudo… em geral, coisas como “parafuso do apoio da junção balão-panela na pézeira, parafuso por fora e anilhas em volta do apoio” não cabem nas etiquetas. Até agora ainda acho que é um bom método.

Quando precisar de tratar as peças é que vou ter que retirar os parafusos, mas aí só tenho que me lembrar de alguns parafusos em particular e também será mais fácil escrever/desenhar a sua posição, será um trabalho a fazer com mais calma e no meio de muito menos sujidade. Para quem estiver a pensar porque raio é que é preciso tanta picuinhice com isto, que fique sabendo que até as anilhas podem ter os lados diferentes! Nem os mecânicos escapam aos enganos. Mecânica é uma actividade para se fazer de cabeça fria e bem concentrada, pois é muito fácil cometer um erro fatal para a máquina.

Não percam os próximos capítulos, que eu, também não 🙂

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5 Responses to Descascar a fruta

  1. O outor says:

    Como dizia a música: “Não pares, não pares” (referência de um conhecido anúncio televisivo … não de uma novela barata 😉 )

  2. Pedro João says:

    Vamos arrasar com essa medíocre “mobilidade fóssil” !!! 🙂
    Dito desta forma, a ideia ganha contornos especiais… agrada-me! (ahah)

    Trabalho mecânico e elucidações com muita qualidade!
    Estás a passar entusiasmo para este lado 😉
    Aguardo por cenas dos próximos capítulos!

    Abraço!

  3. Vasco Névoa says:

    Oh yeah, se há gajo metódico é o NJay!! 😀
    Dá gosto ver, sim senhor.
    Quero mais!!! 😀

  4. Helder Pereira says:

    Juntando à “fruta” o parafraseado “é hoje é hoje é hoje é agora agoooraaa!”, até o Saramago te pode interpretar mal! LOL!

    Bom! Muito, mas muito bom. Venham mais.

  5. Sérgio Duarte says:

    Já lhe ouvi chamar muita coisa mas “fruta”… não. A menina começa a ficar bem descascadinha e pelo meio vai perdendo gorduras desnecessárias, algo que está tão na moda. 🙂 Estou a gostar do que vejo. Trabalho pensado, comentado, documentado, fotografado, explicado… isto promete!
    Continuação de bom trabalho, Nuno e bons posts.

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