Escolher os ingredientes – Montagem

Depois de ter começado a cantiga dos ingredientes, venho falar sobre a escolha do 1º: a montagem. A “montagem” é o nome que se dá a uma mota que tem tudo menos o motor.

Quadro de Aprilia RS125 – peça central da montagem

Teoricamente é uma escolha simples: pega-se nos existentes, filtra-se com requisitos e depois volta-se a filtrar com as opções disponíveis na prática e voilá. Mas claro que as coisas nunca são tão simples como parecem, e o resultado mais habitual do processo atrás descrito é uma mão cheia de nada. Para não variar, as escolhas acabam por se fazer iterativamente. Mas vamos lá…

Numa conversão é preciso saber antes de mais que veículo se vai usar, pois o espaço disponível vai condicionar a transmissão eléctrica (o conjunto baterias-controlador-motor) escolhida e logo a potência, torque e autonomia. Aqui não há muita margem de manobra, pois tinha que ser uma 125cc e elas têm todas mais ou menos o mesmo tamanho. Bom, na verdade penso que poderia começar com uma mota de outra cilindrada e na legalização, por causa da potência inferior a 11KW, ela desceria para a categoria em que pode ser conduzida com carta B, mas uma mota de maior cilindrada também é uma mota mais pesada, e a escolha de 125s é maior. Uma candidata que ainda cheguei a considerar é a Kawasaki Ninja 250cc, pouco maior que uma 125cc, mas também mais rara. Não me lembro de ver por cá outras motas na gama das 250cc carenadas, e acima de 250cc há uma lacuna e depois aparecem as 500cc, já muito grandes/pesadas para uma performance decente com meia dúzia de KW eléctricos.

Como quero uma coisa com bom aspecto, decidi que tinha que ser uma mota carenada para esconder toda a parafernália da transmissão eléctrica, em particular as quadradonas células de bateria. Com estes requisitos o leque de escolhas fica cingido essencialmente às “tradicionais” motas de estrada dos anos 80 em diante, de marcas como a Yamaha, Honda, Aprilia, Cagiva e outras. Tendo em conta as motas que já vi por cá, procurei principalmente estes modelos:

      

        

Em cima temos 2 japonesas, Honda NSR125 e Yamaha TZR125; em baixo 2 italianas, Aprilia RS125 e Cagiva Mito 125. Todas elas muito jeitosas :). Gosto especialmente dos modelos dos anos 80-90. Este video do sítio do costume mostra uma série de motas do estilo:

Tendo uma ideia muito concreta daquilo que eu queria, foi uma questão de ir pesquisando sites como o OLX à espera que aparecesse para venda um destes modelos num estado razoável e a um preço aceitável. Aqui o importante é que o chassis da mota estivesse em boas condições, mesmo que a mota nem tivesse motor. Também é essencial que tenha os documentos… caso contrário é impossível legalizá-la depois de convertida. Convém também ter o manual “de serviço” ou “de mecânica” do modelo, porque isto facilita imensamente o trabalho. Este manual é publicado pelo fabricante para apetrechar as suas oficinas, e tem toda aquela informação técnica e procedimental que ele não quer que chegue às mãos do cliente ;). Mas encontra-se por aí na Net, e há até pelo menos uma empresa famosa em desenvolver e publicar manuais de mecânica para veículos – a Haynes.

Capa do manual de serviço duma Cagiva Mito

Ao longo de meses não apareceram negócios nem geograficamente perto, nem dentro do preço que estipulei para este componente, nem em condições (é por exemplo muito tipico tirarem as carenagens a estas motas e fazerem-nas desaparecer), nem com documentos. Entretanto surgiu uma oportunidade para comprar um bom motor eléctrico e fi-lo, só me apercebendo mais tarde de que este motor tem um sentido de rotação preferido. Para ser fácil adaptá-lo ao chassis de uma mota, esta tem que ter de origem a corrente do lado direito (caso contrário o motor teria que ficar no braço oscilante, como na El Ninja abaixo); ora logo por azar a maioria destas motas tem a corrente do lado esquerdo. Já meti a pata na poça!!!…

El Ninja de John Bidwell – com motor eTek no braço oscilante

O tempo passou e acabou por surgir no OLX uma Aprilia RS125 Replica por um preço mais ou menos, com uma avaria no motor (mais propriamente no CDI), e o vendedor era de muito perto. E por sorte… esta mota tem a corrente do lado direito 😀 ! Fui vê-la e fiz uma pequena inspecção no sentido de determinar se o chassis estava em boas condições (falarei sobre isto noutro post), que me pareceu estar, e avancei com o negócio. Numa noite cravei o meu Maninho (bem haja, Maninho!) e ele ajudou-me a empurrar a mota pelo percurso de cerca de 2,2Km até casa. O que vale é que não havia subidas :).

Na altura a mota não me pareceu “assim tão cara”, mas hoje, depois de a ter descascado bem, o preço já me parece inflacionado. Hei-de fazer um post só sobre todos os problemas com que esta mota chegou às minhas mãos (e vai ser comprido). Até agora pelo menos ainda não encontrei nada de “realmente grave”, mas também vos posso dizer que ainda há espaço para surpresas, e já o outro dizia que… previsões previsões, só no final do jogo. Quando vamos juntar todas as pecinhas que é preciso comprar só para voltar a meter a mota em bom estado… não fica barato.

Pegar numa determinada transmissão eléctrica e adaptá-la ao chassis duma mota envolve detalhes muito difícieis de prever a não ser que já se tenha o chassis. Isto significa que existe um certo grau de incerteza acerca da adaptação, que tive que ultrapassar simplesmente olhando para as escolhas de outros e o seu resultado final. De um ponto de vista “macro”, a conversão é possível; agora na prática, a ver vamos 🙂

Continuamos no próximo episódio… com o motor.

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4 Responses to Escolher os ingredientes – Montagem

  1. Vasco Névoa says:

    “A sorte favorece os audazes”!! 🙂
    Continua homem, cá estamos em suspense… 😉

  2. Pedro S.João says:

    Bem essa da corrente do lado direito já te safou de teres que ficar com o motor tal como ficou a mota da foto que colocaste!

    As surpresas vão aparecendo sempre não é? faz parte! Mas tendo em conta que seria muito difícil encontrar todos esses critérios reunidos numa mota, até te safaste muito bem!

    P-S (trabalho duro, aquele de empurrar a moto por 2,2 duros e árduos quilómetros.. e esqueceste-te duma coisa: “numa noite de nevoeiro intenso..” uuuuu.. lol 😉

  3. Helder Pereira says:

    Muito bom. Mesmo. Esta “série”, e o que lá vem de certeza que também será, é de excelente suporte a quem estiver para querer dar o salto para o futuro já hoje.

    Muito bom mesmo.

    Parabéns companheiro.

    Venham mais!

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